segunda-feira, 26 de julho de 2010

Solúvel ou Insolúvel?

Caráter. Paroxítona terminada em r que, segundo o dicionário Aurélio, significa o conjunto dos traços particulares, o modo de ser de um indivíduo ou de um grupo. Ou ainda, índole, natureza ou temperamento.
Na sociedade brasileira, uma pessoa mau caráter é mal vista, certo?

Parece simples. Mas o que é ter bom caráter? Significa a mesma coisa pra todos? Em termos gerais, se agrega caráter aos comprometidos com a verdade e com a honestidade. Atitudes politicamente corretas, etc. OK. Mas nem tudo que é certo pra mim pode ser considerado certo por você. E numa situação de desespero? Você consegue manter seu caráter intacto ou é capaz de omití-lo por alguns instantes pra livrar sua pele? Me fiz todas essas perguntas ao assistir o notíciário matinal. Duas notícias de impacto. Dois exemplos de caráter.

A primeira delas, foi a divulgação de que alguns policiais teriam recebido propina da família do rapaz que atropelou Rafael Mascarenhas, minutos após o acidente que o matou.

PAUSA. Quem é Rafael Mascarenhas? É um jovem que perdeu a identidade ao morrer, por ter nascido filho de uma conhecida apresentadora de televisão.

Família de classe média alta do Rio, jovem possivelmente cursando ensino superior, criação invejada pelos menos abastados mas, pelo visto, sem nenhum conceito moral. O pagamento da propina em prol da omissão da culpa do filho é o exemplo visível da perda súbita do caráter em um momento de desespero. (Não sei se esse pai já tinha algum histórico de mau caratismo, mas prefiro partir do princípio de que todos são inocentes.) Certamente tentarão justificar o fato com o amor incondicional ou com o famoso jeitinho brasileiro. No meu ponto de vista, jeitinho brasileiro é equivalente a falta de caráter, se não completamente, é caminho direto pra chegar lá. E amor de pai ou de mãe é algo que rompe todas as barreiras, mas pelo bem do próprio filho, jamais deve passar por cima do caráter ou você criará um delinquente em potencial.

A segunda notícia foi a respeito da morte de um adolescente de 14 anos por conta de um disparo de um policial. O jovem foi atingido na rua quando estava ao lado do pai. As imagens do notíciário são chocantes. O pai aos gritos na rua, incrédulo. O policial culpado, também incrédulo, sem entender o que, de fato, ele fez. O jovem, como já dito, morreu. O policial se apresentou à polícia espontaneamente como culpado.

A tendência natural é que toda a população dita possuidora de um bom caráter e, obviamente, senso crítico, volte-se contra os culpados em ambos os casos. Não há nada de errado nisso. Porém, tente prestar a atenção na diferença brusca de caráter nas duas situações.
Desconheço o motivo do disparo do tal policial, mas acidental ou proposital por qualquer razão, ao assumir a culpa, ele optou por ter um bom caráter mesmo em um momento de desespero.

Nada justifica nenhum dos dois crimes. Mas é válido lembrar que mesmo pessoas de um caráter singular erram. Entretanto, a coragem de assumir o erro e arcar com as consequências é a maior prova de bom caráter que uma sociedade pode ter. Sem esquecer que é o presente mais útil, pra si e pra todos, que um filho pode levar pra vida.