“Olha onde tá o dinheiro do meu imposto!”, brada um motorista de
caminhão para os funcionários da empresa Giovanella, ao passar pelo
atoleiro no desvio da obra da ERS 240, no sentido Montenegro-Portão. O
que ele não sabe ao fazer a afirmação é que grande parte dos transtornos
causados no trecho são oriundos dos próprios veículos pesados que não
respeitam as orientações sobre o peso suportado pela estrada. “Se em
cada trevo de desvio for colocado um funcionário da empresa, ninguém vai
trabalhar na obra. Daí os caminhões não respeitam as placas e estragam a
rua”, indignou-se um dos trabalhadores da construtora Giovanella, em um
dos pontos críticos do desvio, na tarde de ontem.
O Jornal
Ibiá acompanha a sina dos motoristas que precisam utilizar a estrada de
chão batido para ir ou vir de Portão, e tem constatado uma série de
problemas.
O aposentado Schirlei Dutra de Oliveira, 62 anos,
que mora à beira do desvio, afirma que os responsáveis pela obra se
prepararam mal. “Desde o começo, quando disseram que iriam usar essa
estrada como desvio, eu já sabia que ia dar problema”, lamenta. De fato,
as inúmeras reclamações a respeito do trânsito, da sinalização no local
e a quantidade de caminhões atolados desde o início da obra abrem o
precedente para que hipóteses como essas se tornem verossímeis.
Na
edição de terça-feira do Jornal Ibiá, um mapa fornecido pelo engenheiro
responsável pela obra, César Zeni, do Departamento Autônomo de estradas
de Rodagem (Daer), orientou os condutores sobre os caminhos a seguir no
trecho, de acordo com o peso dos veículos. Entretanto, a sinalização
precária não permite que as recomendações sejam seguidas corretamente. O
desvio para veículos leves para quem vai de Montenegro até Portão fica
no quilômetro 30 da rodovia, à direita, logo depois da Tenda do Segredo.
Contudo,
não há placas claras mostrando que ali a rota alternativa só serve para
automóvel. Quem passa desatento cai automaticamente na entrada da
estrada sugerida para caminhões, chamada Barra do Cadeia, e trecho de
acesso à ERS 240 de quem vem de Portão para Montenegro.
Com a
confusão, a estreita via, de aproximadamente 5 quilômetros de estrada de
chão, acaba recebendo fluxo de carros de ambos os sentidos e, ainda, os
caminhões e carretas que não deveriam trafegar por ali.
Transtornos são resultado de mau uso
Na
tarde de ontem, a equipe do Jornal Ibiá presenciou o caos que se
instalou a partir de um caminhão que atolou no trecho para veículos
leves, na estrada da Divisa. Uma imensa fila de carros se formou
enquanto os funcionários da Construtora Giovanella, contratada pelo Daer
para reconstruir o bueiro na 240, se desdobravam para transportar
material que pudesse dar condições à estrada de chão danificada pela
chuva e pelo uso dos veículos pesados.
Enquanto isso,
motoristas indignados com a precariedade da rota e a demora para
conseguirem passar reclamavam da situação. “Achei uma falta de
organização essa obra. Quem a contrata tem que dar estrutura para que
ela possa ocorrer. Estamos em 2012 e ainda vemos esse tipo de situação”,
afirmou Dirceu Roque Sponchiado, que pretendia chegar a Taquaruçu do
Sul.
Outros motoristas comentavam que não havia placas que
informassem que veículos de mais de 8 toneladas não poderiam trafegar
por aquele desvio, no sentido Portão-Montenegro. Todos eles esperaram
cerca de 30 minutos para seguir viagem.
Morador do local, o
agricultor Harry Gröss, 40 anos, olhava com o cenho franzido os homens
tentando assentar o barro no trecho onde ocorreu o atolamento. “Tá
horrível isso aqui. É uma vergonha! Esse desvio devia ter sido preparado
antes. Deviam ter alargado essa estrada antes”, reclamou. Ele chegou a
fazer contato com a Polícia Rodoviária que o orientou a entrar em
contato com a empreiteira.
A quem cabe a responsabilidade?
A
grande dúvida que paira sobre os usuários do trecho em questão é a
respeito da responsabilidade pelas condições das rotas alternativas.
O
superintendente regional do Daer, engenheiro Jorge Fernandes, informou
que, antes do início da obra, foi solicitado à Construtora Giovanella
que o desvio recebesse melhorias para suportar o fluxo de veículos. Uma
revigoração do desvio teria sido feita pela empresa, todavia, a
utilização do trecho por veículos pesados teria prejudicado o trabalho.
Jorge ainda informou que, por conta dos transtornos que vêm ocorrendo,
novas melhorias foram solicitadas para amenizar o caos.
A
Giovanella afirmou que o Daer é quem dá as orientações, e a ela cabe
apenas executar as medidas. Contudo, tanto o Daer quanto a Giovanella
reforçam o pedido de colaboração dos motoristas. Caminhões da
construtora estão, constantemente, deslocando material para os desvios,
com a finalidade de assentar o barro e os buracos provocados pelas
chuvas de ontem e pelos motoristas de caminhões que não obedecem as
placas. Para hoje estão previstas novas intervenções nos trechos
alternativos para melhorar a estrada.
Diante da confusão, o Daer informou que irá analisar a situação e tomar medidas.
*Texto parte da cobertura da obra da "cratera", no km 24 da ERS 240. Foi publicada em 31 de maio de 2012, no Jornal Ibiá (Montenegro-RS). Matéria com fotos aqui.