domingo, 21 de setembro de 2014

É na tradição que o gaúcho "dá de relho"

Ainda está para nascer um gaúcho que não saiba o que é tradição. Rinaldo Souto sabe disso. Tanto sabe que, há 28 anos, vive de ser gaúcho. Toda sua renda vem exclusivamente de passar o regionalismo do Estado adiante. E é exatamente esse o significado da palavra “tradição”.

Aos 15 anos, ele entrou pela primeira vez em um Centro de Tradições Gaúchas(CTG), convidado por uma “prenda”. Como ele conta, nunca tinha se deparado com tantas gurias bonitas. Mas, as prendas foram parar em segundo plano quando Rinaldo se viu diante da chula.

“A primeira visão que eu tive foi da chula, e pensei: ‘isso é maravilhoso’. Era todo mundo eufórico com a apresentação (...) então pensei ‘eu quero viver essa emoção’”, relembra.

Em quatro meses, Rinaldo já competia pelo CTG e ganhou o primeiro torneio que disputou. E foi só o começo de uma vida dedicada aos passos que caracterizam parte da tradição do Rio Grande do Sul.

O tempo passado em ensaios trouxe mais do que dança. As viagens e trocas de experiências com outros colegas do CTG deram a Rinaldo conhecimento sobre os regionalismos que constroem o modo de falar do gaúcho.

Mas o regionalismo linguístico não é exclusividade de quem nasce nos Pampas. “Renguear cusco” e “deixar cair os ‘butiá’ do bolso” todo mundo faz, mas só o gaúcho sabe realmente o significado desses termos.

As mudanças no modo de falar, gírias e expressões regionais de um determinado grupo, e época, são resultado, simplesmente, de uma mente criativa expressando uma situação cotidiana de forma irreverente. Então um fala pra um, que fala pra outro, que acha legal e pronto.

O professor Marcos Goldnadel, especialista linguística, explica como surgem os regionalismos:

“(Os regionalismos) surgem a partir de uma primeira premissa de que as línguas estão sempre mudando, sempre se enriquecendo. Dentro dessa dinâmica, surgem palavras novas, já que as pessoas querem se expressar de forma criativa, essas expressões ganham popularidade e se espalham em uma comunidade. A linguagem verbal também é para se identificar com os outros.”

É dessa maneira que a língua vai se modificando desde sempre. O que muda com o tempo são as formas de disseminação desses termos, seja pela internet, com o“Marco Véio”, ou o pela intervenção de um pai mandando "sossegar o pito"! Estranhar regionalismos é normal e pode até trazer problemas de compreensão caso não esteja habituado ao linguajar de determinada região do País ou do Mundo.

Mas não se deixe intimidar por olhadelas que censurem teu modo bem gaúcho de pedir o "pãozinho" na padaria ou qualquer outro tipo de deboche. Como já dito, tradição é passar adiante as melhores características de uma cultura, e nisso o gaúcho “dá de relho”.


Matéria adaptada para o rádio

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* Texto publicado em 20 de setembro de 2014, no site da Rádio Gaúcha. Acesse a matéria