Mad tem os olhos fixos, completamente absorto em um mundo paralelo. Tem colada ao corpo uma guitarra e, apesar de estar no palco com mais dois músicos, sente o conjunto de sons como se estivesse só. Bruno Croda Machado, 22 anos, é um frequentador sistemático das quartas livres do Art & Bar, na zona norte de Porto Alegre. Conhecido como Mad por conta da semelhança com o personagem da revista americana de William Gaines e de Harvey Kurtzman, o jovem data sua história com a música de berço. “Toco na noite desde cedo, mas sempre estive muito em contato com a música. Já toquei de tudo. Estou sempre em busca de novas frequências sonoras. Por isso estou constantemente conhecendo novos instrumentos. Posso não saber tocá-los. Tu tem é que descobrir os sons”, conta o músico que trabalha com edição, sonoplastia de filmes e toca músicas do cantor John Mayer na noite de Porto Alegre.
Na mesma sintonia o mais jovem do palco não pára um instante de brincar com as baquetas enquanto as reveza com um copo de cerveja sempre abastecido por um amigo espectador. “Música é uma arte única, que transmite diferentes impressões e sentimentos”, afirma Bruno Braga Pereira, baterista conhecido como Metallica. O jovem de 21 anos toca na noite porto-alegrense desde 2006 com diversas bandas, faz faculdade de Música e praticamente vive de estudar bateria e correr atrás de cursos especializados com músicos renomados.
Entre as notas que remontam uma melodia conhecida, a voz de Marcelo Brum soa no microfone como se o próprio Bob Marley estivesse presente. O público canta junto. Aplaude. Vibra com a performance do grupo. “Música é esperança, união, trabalho, força, espiritualidade. Me sinto à vontade tocando, concentrado, naturalmente com personalidade”, conta o jovem de 23 anos apelidado de Rasta.
Os três músicos são amigos dentro e fora do palco. Cada um com sua trajetória musical em curso, todas elas cruzadas nas quartas-feiras. Mad é o único que cursa uma faculdade não ligada à música. O estudante de Publicidade tem suas jornadas musicais mais cansativas por conta do trabalho e da faculdade que leva durante o dia. Mas cansaço pra tocar, definitivamente, não existe. “Quando toco com meus amigos me sinto realmente amigo, pois tocamos há muito tempo juntos e é uma forma de comunicação, da amizade muito verdadeira. Se o clima estiver ruim, o som sai uma droga”, afirma. O artista diz não querer viver da música, mas sim de som.
Metallica e Rasta não compartilham do mesmo objetivo. Completamente submersos no mundo da música, os dois projetam um futuro ligado a shows e a tudo o que esse mundo primeiramente noturno tem a oferecer. “É na noite que tudo acontece”, explica Rasta, que toca profissionalmente na banda Brilho da Lata. Metallica conta que é músico nas noites de Porto Alegre pelo dinheiro e pela alegria de estar divertindo as pessoas e compartilhando esse momento com os colegas de banda. “Me sinto criativo tocando. Me sinto realmente bem.”
Entretanto, os três dividem mais uma paixão além da música: a cerveja. O copo sempre cheio, e a música no ar. Esse parece ser o cenário perfeito. Para quem os vê de longe, fora dos palcos, não são nada mais do que jovens comuns, curtindo sua festa. Porém, de perto, devidamente munidos de instrumentos, o profissionalismo se mistura às sensações boêmias dos bares e à efervescência da noite. Rasta afirma que a boemia faz parte de uma escolha de vida. Entretanto, todos concordam que a fama de boêmio faz parte da maioria dos músicos. Isso, definitivamente, não importa. O que fazem é o principal.
Já passa das três da manhã. Metallica desmonta a bateria e guarda os pratos na mochila. Mad despluga os pedais. O bar está praticamente vazio. Entre tchaus e até logos, os guris esvaziam os copos e rumam vagarosos pra casa. Os astros do rock n´roll na parede podem descansar sossegados. A música está segura nas mãos dos jovens músicos porto-alegrenses.
