sexta-feira, 5 de março de 2010

Welcome to the jungle


Na troca diária entre uma turma e outra, uma colega brasileira da turma seguinte comenta: " Como é tua turma? Meu professor, desde o primeiro dia de aula, me trata diretamente como a menina que veio da floresta"

Silêncio. Olhares.

Uma revolta incontrolável se dissipa rapidamente pelo meu corpo. Não sei explicar ao certo o motivo daquela sensação, mas era como se me ofendessem de tal forma que não pudesse mensurar minhas reações. Ela prosseguiu: "No curso que fiz aqui em Paris no semestre passado, na prova final caiu um texto de uma revista renomada daqui, falando do Brasil como o país da salsa. E agora mais essa."

Saí da sala com o choro em vias de se pronunciar. Indigesta com tanta arrogância e ignorância. Esperaria aquilo de qualquer povo, menos do francês, sempre dito tão culto e instruído. Pensei na sorte que tive em fazer parte de um grupo onde o mais próximo do desconhecimento foi me perguntarem se no Brasil se falava espanhol.

Agora, depois de refletir até a cabeça doer, vejo que tudo não passa de simples prepotência. Consideram o Brasil inferior por não saberem absolutamente nada a respeito. Aliás, até sabem, mas conhecem a história dos relatos de Hans Staden. Só pode ser isso.

O que me intriga é o fato de no Brasil, sabermos sobre os mais variados povos e, mais do que isso, caso não saibamos, é fácil digitar www.google.com na internet e ir atrás de fotos e informações. Internet é uma rede mundial ou me engano plenamente?

A conclusão a que chego me leva a crer que, a França - pois só tenho conhecimento dela pra falar - vive ainda a ressaca dos idos de 1900. Onde, no fervor da evolução cultural parisiense, Paris era o centro do mundo e os franceses o povo mais culto entre os povos. Seguem cultuando essa sabedoria sobre tudo, de fato. Há livros e cultura por toda parte. É perceptível todo esse conhecimento. Mas ao mesmo tempo percebo muita ignorância. Uma falta de humildade que beira o descaso. Isso mancha por demais um lugar tão mágico como Paris.

Chamaria isso - usando um neologismo meu - de "francocentrismo". E então, chegaria a ponto de entender que patriotismo é um sentimento que bem ou mal, todos temos. E saberia ver que ofendê-lo com a ignorância é sentir que a floresta é, definitivamente, aqui.