A idéia foi minha, todavia, quem me motivou a colocá-la em prática foi o conselheiro Aires. Um amigo dele deixou o diário na estante do meu quarto. Fiquei curiosa. Peguei-o pra ler. O conselheiro é realmente um cara culto. Impressões, anotações e observações de uma época distante, 1800 e alguma coisa. Tudo ali, registrado em folhas de papel.
Aires tem se mostrado um verdadeiro engenheiro. Articula palavras como engrenagens, planeja as sentenças com cautela e sabe onde deve lubrificar o parágrafo para que o conjunto se desenrole propiciamente sem os irritantes "inhécs inhécs". Não há falhas. Vírgulas e pontos são seus parafusos, porcas e pregos. Tudo em seu devido lugar. A inspiração é o combustível que faz a engenhoca funcionar. Uma engenhoca de papel.
O conselheiro Aires me motivou. O amigo que deixou o livro na estante também. Um tal de Machado de Assis. Agora quero ter o meu próprio maquinário e colocar nele minhas percepções do mundo lá fora. Tudo lá de fora bem aqui dentro. Aqui dentro pra todo mundo ver. O mundo visto por mim, lubrificado com o meu melhor óleo. Todas as peças no seu devido lugar. Tudo registrado na minha engenhoca de papel.


2 comentários:
boa idéia!
aliás, idéias de machado são sempre boas.
boa sorte, então!
Sensacional introdução.
Me pergunto nesse momento se alguém escreve melhor do que tu.
Adorei, inclusive, a metáfora!
Marco Lovatto
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