Uma tarde quente e muito
nervosismo. Assim eu descreveria o dia em que fui fazer a entrevista com os
haitianos que vieram, recentemente, pra Montenegro. Normalmente eu já fico
ansiosa para entrevistas importantes, porém, aquela seria minha primeira em
francês, língua que estudei durante anos, mas estava há muito sem praticar.
O primeiro contato com os novos
imigrantes foi mais fácil do que eu imaginava e o idioma fluiu melhor do que eu
poderia esperar. O Ezechiel, que cursou dois anos de faculdade, se mostrou
super solícito e comunicativo - apesar de não querer aparecer nas fotos - e me
ajudou muito a compreender o que os outros falavam em Crioulo - dialeto
haitiano que constitui língua oficial junto com o francês.
Em quase 2 horas de entrevista,
ele me mostrou a casa onde estão vivendo e falou sobre seus sonhos. Foi
emocionante o momento em que, conversando sobre a vontade que ele tem de continuar
seus estudos, eu mencionei que aqui no Brasil existiam universidades gratuitas
e que, talvez, fosse possível tentar seu ingresso em alguma delas. A alegria no
olhar foi explícita.
O Jean Chal foi outro que
comoveu. A primeira coisa que me perguntou, quando me apresentei como sendo do
Jornal, era como ele deveria fazer pra trazer a esposa e os três filhos que
deixara no Haiti. Fiquei sem palavras, querendo dizer algo que alentasse, mas,
infelizmente, não tinha nenhuma informação que pudesse ajudar.
Depois de conversar com eles,
tive um longo diálogo com o Charles, coordenador de produção da Agrogen, que
foi ao Acre fazer a oferta de emprego. Ali eu percebi que a situação dos
haitianos não emocionava só a mim. Ele me contou toda a história e se emocionou
ao lembrar de alguns fatos. Por fim, ele afirmou, que se a empresa pedisse que
fosse novamente ao Acre, iria simplesmente pela oportunidade de ter contato com
uma realidade tão difícil e poder fazer algo pra mudar.
Saí de lá pensando muito naquilo
tudo. Na vida daquelas pessoas, em tudo que eu tinha e como eu deveria
agradecer pela vida privilegiada que levo. Fiquei com vontade de voltar mais
vezes, e, de fato, o farei. Talvez eu não possa ajudar o Jean Chal a trazer a
família, nem o Ezechiel a voltar a estudar, mas posso tentar fazer com que essa
batalha dura que eles terão pela frente, seja menos sofrida com a amizade e
apoio que me senti disposta a oferecer. Bon courage, mes nouveaux amis! (Boa
sorte meus novos amigos!)
* Texto publicado na seção "Blog da Redação", no site do Jornal Ibiá (Montenegro-RS), com os bastidores da entrevista com os haitianos.
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