quinta-feira, 31 de maio de 2012

Quando o trabalho dá lição de vida

Uma tarde quente e muito nervosismo. Assim eu descreveria o dia em que fui fazer a entrevista com os haitianos que vieram, recentemente, pra Montenegro. Normalmente eu já fico ansiosa para entrevistas importantes, porém, aquela seria minha primeira em francês, língua que estudei durante anos, mas estava há muito sem praticar.

O primeiro contato com os novos imigrantes foi mais fácil do que eu imaginava e o idioma fluiu melhor do que eu poderia esperar. O Ezechiel, que cursou dois anos de faculdade, se mostrou super solícito e comunicativo - apesar de não querer aparecer nas fotos - e me ajudou muito a compreender o que os outros falavam em Crioulo - dialeto haitiano que constitui língua oficial junto com o francês.

Em quase 2 horas de entrevista, ele me mostrou a casa onde estão vivendo e falou sobre seus sonhos. Foi emocionante o momento em que, conversando sobre a vontade que ele tem de continuar seus estudos, eu mencionei que aqui no Brasil existiam universidades gratuitas e que, talvez, fosse possível tentar seu ingresso em alguma delas. A alegria no olhar foi explícita.

O Jean Chal foi outro que comoveu. A primeira coisa que me perguntou, quando me apresentei como sendo do Jornal, era como ele deveria fazer pra trazer a esposa e os três filhos que deixara no Haiti. Fiquei sem palavras, querendo dizer algo que alentasse, mas, infelizmente, não tinha nenhuma informação que pudesse ajudar.

Depois de conversar com eles, tive um longo diálogo com o Charles, coordenador de produção da Agrogen, que foi ao Acre fazer a oferta de emprego. Ali eu percebi que a situação dos haitianos não emocionava só a mim. Ele me contou toda a história e se emocionou ao lembrar de alguns fatos. Por fim, ele afirmou, que se a empresa pedisse que fosse novamente ao Acre, iria simplesmente pela oportunidade de ter contato com uma realidade tão difícil e poder fazer algo pra mudar.

Saí de lá pensando muito naquilo tudo. Na vida daquelas pessoas, em tudo que eu tinha e como eu deveria agradecer pela vida privilegiada que levo. Fiquei com vontade de voltar mais vezes, e, de fato, o farei. Talvez eu não possa ajudar o Jean Chal a trazer a família, nem o Ezechiel a voltar a estudar, mas posso tentar fazer com que essa batalha dura que eles terão pela frente, seja menos sofrida com a amizade e apoio que me senti disposta a oferecer. Bon courage, mes nouveaux amis! (Boa sorte meus novos amigos!)

* Texto publicado na seção "Blog da Redação", no site do Jornal Ibiá (Montenegro-RS), com os bastidores da entrevista com os haitianos.

 

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