Toda vez que recebo uma pauta
sobre a história de vida de uma pessoa, procuro me preparar. Não sei bem o
motivo dessa mania, afinal, nunca sei o que vou ver. Acho que o legal de ser
jornalista é isso. Nunca saber o que vem pela frente. Com o Seu Mariano não foi
diferente. Eu só sabia que deveria visitar um senhor que escrevia poemas.
Jamais poderia imaginar que me depararia com uma pessoa capaz de dar uma lição
de vida em um encontro de pouco mais de uma hora. A história do poeta de 71
anos comove. Comove pelo amor à escrita e à literatura. Pela forma como
conseguiu manter-se escrevendo durante quase toda a vida sem perspectiva de
reconhecimento.
Um fato contado por ele que me
marcou muito foi a história de quando foi colunista de um jornal. Seu Mariano
lembrou que uma vez foi pedido para escrever sobre uma temática que considerou
ruim. Algo como violência ou coisa do gênero. Ele conta que se negou a fazer
por não ter interesse em disseminar mensagens que não fossem boas. Um pouco
antes ele mencionou um episódio em que, quando jovem, escrevera uma décima
sobre uma enchente que atingiu Candelária e fora reprimido pelos irmãos. “Coisa
negativa não se passa pros outros”, disseram na ocasião. Uma filosofia que
levou por toda a vida.
Pedi alguns poemas pra colocar na
matéria e recebi a negativa acompanhada da explicação de que os grandes jornais
não têm interesse em publicar esse tipo de coisa. Que o que gera leitores é a
tragédia, o assalto, a morte. Naquele momento, pensei no quanto eu gosto de
literatura e no quanto apreciaria ver um texto legal com uma história bacana
como a de Seu Mariano. Pensei nisso como leitora mesmo e não como jornalista.
Falei pra ele que os jornais têm o objetivo de informar - seja a notícia boa ou
ruim – e que, mais do que isso, os veículos de comunicação são uma forma de
mostrar que não somos os únicos, que nossas rotinas são parecidas e que muito
do que é importante pra nós, também é importante pra muitos. Mais do que a
informação, as pessoas buscam identificação com tudo o que é noticiado. Além
disso, mostrar histórias como a dele são uma forma de fugir das "matérias que dão
audiência", para dar espaço às que dão certeza de que é possível ser feliz.
* Texto publicado na seção "Blog da Redação", no site do Jornal Ibiá (Montenegro-RS) em 26/06/2012, referente ao texto O Poeta do Faxinal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário