sexta-feira, 29 de junho de 2012

A vida só vale o que se faz de bom

Toda vez que recebo uma pauta sobre a história de vida de uma pessoa, procuro me preparar. Não sei bem o motivo dessa mania, afinal, nunca sei o que vou ver. Acho que o legal de ser jornalista é isso. Nunca saber o que vem pela frente. Com o Seu Mariano não foi diferente. Eu só sabia que deveria visitar um senhor que escrevia poemas. Jamais poderia imaginar que me depararia com uma pessoa capaz de dar uma lição de vida em um encontro de pouco mais de uma hora. A história do poeta de 71 anos comove. Comove pelo amor à escrita e à literatura. Pela forma como conseguiu manter-se escrevendo durante quase toda a vida sem perspectiva de reconhecimento.

Um fato contado por ele que me marcou muito foi a história de quando foi colunista de um jornal. Seu Mariano lembrou que uma vez foi pedido para escrever sobre uma temática que considerou ruim. Algo como violência ou coisa do gênero. Ele conta que se negou a fazer por não ter interesse em disseminar mensagens que não fossem boas. Um pouco antes ele mencionou um episódio em que, quando jovem, escrevera uma décima sobre uma enchente que atingiu Candelária e fora reprimido pelos irmãos. “Coisa negativa não se passa pros outros”, disseram na ocasião. Uma filosofia que levou por toda a vida.

Pedi alguns poemas pra colocar na matéria e recebi a negativa acompanhada da explicação de que os grandes jornais não têm interesse em publicar esse tipo de coisa. Que o que gera leitores é a tragédia, o assalto, a morte. Naquele momento, pensei no quanto eu gosto de literatura e no quanto apreciaria ver um texto legal com uma história bacana como a de Seu Mariano. Pensei nisso como leitora mesmo e não como jornalista. Falei pra ele que os jornais têm o objetivo de informar - seja a notícia boa ou ruim – e que, mais do que isso, os veículos de comunicação são uma forma de mostrar que não somos os únicos, que nossas rotinas são parecidas e que muito do que é importante pra nós, também é importante pra muitos. Mais do que a informação, as pessoas buscam identificação com tudo o que é noticiado. Além disso, mostrar histórias como a dele são uma forma de fugir das "matérias que dão audiência", para dar espaço às que dão certeza de que é possível ser feliz.   


* Texto publicado na seção "Blog da Redação", no site do Jornal Ibiá (Montenegro-RS) em 26/06/2012, referente ao texto O Poeta do Faxinal.

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