A onda de ataques a bancos com explosivos em 2012 já é cerca 30%
maior que o registrado em todo ano passado no Rio Grande do Sul. Até
este mês, foram contabilizados pela Polícia Civil 18 arrombamentos. O
crescimento, já sinalizado em outras partes do País, escancara a
fragilidade na fiscalização e no controle deste arsenal.
De acordo com o delegado Juliano Brasil Ferreira, da 1ª Delegacia
de Roubos do Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado
(Deic) do Rio Grande do Sul, as grandes quadrilhas que atuam nessa
modalidade criminosa são formadas geralmente por cinco ou seis
integrantes, que preferem os primeiros dias do mês e os finais de semana
para agir. Os ataques geralmente são noturnos, quando não há
funcionários, necessitando, dessa maneira, de uma ferramenta que torne o
dinheiro acessível. Aí entram os explosivos.
Na cidade de Feliz, no interior gaúcho, a quantidade de explosivos
utilizada pela quadrilha foi tão grande que o impacto destruiu toda a
agência e abalou a estrutura da construção a ponto de ser necessária uma
avaliação de engenheiros sobre os riscos de desabamento. Ferreira
explica que nesse tipo de ataque, dificilmente os bandidos conseguem
levar mais de R$ 20 mil. "Com a explosão eles acabam perdendo muito das
notas. Um caixa eletrônico é abastecido com cerca de R$ 80 mil. Dessa
maneira, por menos da metade da quantia contida no caixa, agências
inteiras são destruídas."
Para ele, o fácil acesso dos bandidos a instruções de uso e aos
próprios explosivos constitui um facilitador desse tipo de delito.
"Infelizmente, o conhecimento sobre a utilização desse material está
difundido entre os criminosos, sendo que um passa para outro, sem muita
preocupação com a melhor técnica. Além disso, através da internet é
possível conseguir até mesmo simulações", explica Ferreira.
Ainda segundo o delegado, esse material chega às quadrilhas por meio
do desvio gota-a-gota feito em pedreiras e empresas que utilizam
explosivos. "É difícil controlar os desvios porque alguns criminosos
sabem que apenas uma banana de dinamite é capaz de explodir mais de um
caixa eletrônico. Muitas vezes as pedreiras nem tomam conhecimento desse
desvio por ser muito pequeno", explica.
O controle desses estabelecimentos é feito pelo Exército Brasileiro. A
legalidade de utilização do material é restrita apenas a empresas que
possuem autorização militar para produzir ou comercializar esse tipo de
produto. "Infelizmente, acredito que por mais que o exército fiscalize,
não conseguirá conter essa onda, pois não vejo qualquer relação quanto a
isso", declara Ferreira.
O Serviço de Fiscalização de Produtos Controlados do Exército (SFPC)
explicou que as pedreiras geralmente possuem paiol próprio e, por conta
disso, são alvo da elaboração de planos anuais de vistoria sobre a
segurança na acomodação, recebimento e saída desse material. As visitas
da fiscalização não são avisadas e, caso seja constatada alguma
irregularidade, a empresa é autuada e os produtos em desacordo com as
normas passíveis de apreensão. Embora esse controle seja feito, o órgão
admite que furtos, roubos e desvios podem ocorrer e são difíceis de
controlar.
Nesses casos a empresa comunica o Exército que busca apurar se houve
negligência com relação às normas de segurança exigidas. Contudo, o
regulamento militar prevê apenas sanções administrativas. A parte
criminal fica ao encargo dos órgãos policiais, conforme informações do
SFPC 3, situado no Rio Grande do Sul.
Outro possível acesso dos bandidos aos explosivos seria através do
roubo dessas cargas durante o
transporte para abastecimento das
pedreiras e empresas. Desde o ano passado, o território gaúcho
contabilizou quatro episódios desse tipo. Apenas um dos crimes terminou
com a recuperação do material, em Garibaldi, na região serrana.
Apesar de Ferreira não acreditar neste método de obtenção como o
principal, pela grande atenção que desperta, o SFPC explica que o
transporte de carga explosiva ainda sofre com brechas na legislação que
propiciam o crime. Segundo o órgão, é necessária uma guia de tráfego
para o transporte, bem como seguir normas de segurança como rastreamento
do veículo e outros aparatos. Entretanto, a legislação não exige, até o
momento, a utilização de escolta para o deslocamento.
Em 14 de agosto deste ano, uma quadrilha explodiu, ao mesmo tempo,
oito máquinas de auto-atendimento em Torres, no litoral gaúcho. A
explosão destruiu toda a área dos caixas eletrônicos. A ousadia dos
bandidos, segundo o delegado, segue tendências que mudam com o tempo.
"Quando eles descobrem uma ferramenta nova, os ataques começam em uma
parte do País e logo se espalham por tudo. Antigamente sequestravam os
gerentes pra que abrissem o cofre, hoje em dia usam explosivos. Só mudam
a forma da operação", destacou.
Na opinião do delegado, mais do que apenas fiscalização é necessário
pra conter os ataques. O investimento em segurança por parte dos bancos,
juntamente com uma maior repressão policial dificultaria a ação dos
bandidos. "Acredito que tal modalidade criminosa terá fim quando os
bancos adotarem dispositivos que invalidem as notas com a onda de calor,
como, por exemplo, a guilhotina (corta as cédulas ao meio) e o
entintamento", disse Ferreira, que nesta semana liderou uma operação que
resultou na prisão de pelo menos 16 pessoas. O grupo é suspeitos de
roubos a bancos e caixas eletrônicos com o uso de explosivos na região
metropolitana de Porto Alegre.
*Texto publicado no Portal Terra de Notícias em 15 de setembro de 2012. Matéria Online
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